terça-feira, 30 de abril de 2013

...filho




Acredita FILHO!... Ouve o que te digo. Somos iguais. Sim, somos iguais.
Feitos de razões e esperanças, do Tudo e do Nada, de risos e de amores.
Emocionas-te. Aguardas, Anseias... Já Acreditas!
Teus olhos são verdes, tão verdes quanto os meus, transparentes ou castanhos ou cinzentos... que importa? O que vêem, o que sentem. Canta mais alto. O que excede e nos transcende: é o sol, os mares e os amores, luas, pássaros e flores, estrelas, carícias e beijos, ternuras, e sorrisos - Gestos! E esses, prometo-te, são nossos, FILHO. Tudo o resto é tempo perdido, disperso e inútil.
A tua Essência é a minha.
Pai, tenho frio!... « Tapa-te, meu filho, tapa-te... com os meus braços e meus cansaços, só isso tenho para te dar!»
Pai, tenho fome!... « Toma, meu filho, toma meus beijos e meus desejos, é tudo que tenho para te querer!»

E passam estações, dias, horas... E passam anos. E passa a Vida.

Tens frio no corpo?... Eu tenho-o na alma...
Tens fome de pão?... Eu tenho de carinhos...
Tens sede de água?... Eu de Verdades...

Quero ser leve... leve, assim como tu; lado a lado, serenamente, sem falsas glórias ou invejas ou vaidades... na riqueza ou na miséria, chorados ou amados, somos iguais. Somente, Sozinhos.

Vem meu FILHO!... Vem daí, dá-me a tua mão. Vem ter comigo... Eu estou aqui.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

... viagens na auto-casa

Partimos sem nenhum roteiro, sem compassos marcados nem paragens predefinidas. O objectivo era ir parando e avançando movidos ao ritmo da nossa vontade e o caminho que escolhíamos seria em busca das melhores ondulações, em busca dos melhores picos, nas melhores praias.
A carrinha devolve-nos a memória da velocidade pausada, tudo se passa com uma cadência que permite viver muito mais a viagem do que a ideia do destino.
As pessoas que vamos conhecer, os amigos que vamos reencontrar, as outras carrinhas que vamos ver, as ondas que vamos surfar, tudo vivido espontaneamente.
Adormecer a poucos metros do mar, sem luzes, sem ruído, sem barulho, acordar, surfar e viver!
O ritmo compassado da carrinha que nos permitiu viver tudo mais lentamente, absorver mais a paisagem, a viagem , as pessoas, as cidades, vilas, cheiros, luzes, o sol, a lua, as estrelas, como num plano único, sem cortes, de forma fluída, lenta e muito mais intensamente.






... seres completos


Há um velho mito da Antiguidade Clássica que sugere que quando buscamos o amor, estamos em busca da outra metade que perdemos. No início, homens e mulheres eram unos, mas o seu orgulho levo-os a desafiarem os deuses do Olimpo, que como punição os cortaram ao meio. É esta mutilação ancestral que nos leva a procurar o outro, a nossa metade, ansiando pelo momento em que voltamos a ser inteiros.

... amor de sal

... Lá por te sentires diferente, não tens de deixar de ser normal.
Com os anos aprendi que manter-me na normalidade é a melhor solução para manter o surf pela vida fora, a ambição profissional, a estabilidade financeira, a minha família e o meu percurso existencial é como combustível para uma chama intensa e paralela que é o meu amor pelo mar.
É para lá que o meu olhar caminha. As pernas limitam-se a acompanhar !


... hipóteses


O cenário é perfeito! E, ainda assim estava disposto a colocar tudo isso em causa pela remota hipótese de haver alternativas melhores, outra vida para além daquela. Assustava-me, principalmente olhar para a frente e ver qual ia ser o meu futuro. Não que fosse mau, mas, ao vê-lo assim de uma forma tão clara, parecia que já o tinha vivido e não ia trazer muitas novidades.
... como se deixássemos cair tudo o que temos como garantido e começássemos do zero. Não é sequer uma opção, simplesmente acontece.

... runaway



Theres no saving anyting, Now we´re swallowing the shine of the summer, there´s no saving anything, how we swallow the sun.
But i won´t be no runaway. Cause i won´t run, no i won´t be no runaway.
What makes you think i´m enjoying being led to the flood? We got another thing coming undone, and its taking us over, we don´t bleed, when we don´t figth, go ahead, go ahead.
Throw your arms in the air tonight, we don´t bleed whem we don´t fight, go ahead, go ahead, lose your shirts in the fire tonight.
But i wont runaway, cause i wont be no runaway, cause i won´t run, no i won´t be no runaway.We don´t bleed, when we don´t figth, go ahead, go ahead, throw your arms in the air tonigth, we don´t bleed, when we don´t figth, go ahead, go ahead, lose your shirts tonigth.
With you swallowing the shine of the summer, i´ll go braving everthing, througth the shine of the sun.We got another thing coming undone.
And its taking us over.

* THE NATIONAL, Runaway

... em ti


Em ti há qualquer coisa que me anima, qualquer coisa que me transcende, que me prende.
É qualquer coisa imensa que vem de cima e desce sobre mim, meus sentidos dominas, a vontade é de ferro no meu peito.
Só tu me acalmas e me reduzes, só tu me transportas à realidade !

...solidão


... mas o dia ainda não tinha terminado, tomei um duche de água fria para tirar o que me restava de "cinzento" no corpo!!!
A solidão é necessária até descobrir o que te falta completar...

... escolhas



... E pior ainda, temos de ser felizes. Sim, não vale a pena queixarmos-nos, não há lugar para tristezas ou depressões.
Nós e os outros. O que fazemos e como nos comportamos, num jogo entre nós e o nosso «eu» interior. Há sempre quem esteja pior que nós.
E quando um dia, pontualmente, decidimos que é demais, cai-nos tudo em cima. E sentimos-nos perdidos, sentimos que não é justo. Mas somos nós, nas pequenas coisas do dia-a-dia, que mantemos esse mundo.
E um dia, este muro surge-nos pela frente.

... Sol







Afinal não é uma mania portuguesa. O Sol tem mesmo o poder de varrer a angústia e a tristeza típicas dos dias cinzentos, trazendo, nos seus raios estivais, uma atitude positiva que impregna o corpo e a mente. É uma certeza cientifica que os níveis das chamadas hormonas da felicidade sobem quando apanhamos sol.

Por esta lógica de ideias sou muitas vezes feliz na cara, nas mãos e nos pés, as únicas extremidades expostas aos raios solares enquanto surfo

... Cámone sem máquina em Marrocos



Nos últimos anos, sempre que me foi possível, Marrocos tem sido o destino escolhido. Excluindo as razões óbvias em relação ao surf, é um país fascinante em muitos outros aspectos, tem sítios fantásticos para visitar e é barato.

Ao chegar a Casablanca e mais tarde, em Agádir aproveitei para fazer a visita típica do turista e para tirar fotos, porque na minha última estadia não levei a "minha" máquina fotográfica ( levou-a uma ex-namorada e como é óbvio não fiquei com nenhuma foto para mim).

Passado pouco tempo de visita, fiquei sem bateria na máquina, não me lembrei de fazer uma coisa bem simples que é verificar o estado dela!

Claro que isso não me fez parar a visita e lá fui eu feito Cámone! Nem tudo corria mal, o tempo estava maravilhoso, apesar de não ter bateria na máquina fotográfica... há sempre os telemóveis com câmaras. E assim consegui algumas fotografias para a posteridade.

...O gelo é saudável ?




Estudos europeus revelaram os efeitos do alcoól e evidenciaram que:


Vodka+Gelo = estraga os rins!


Rum+Gelo = estraga o fígado!


Whisky+Gelo = estraga o coração!

Gin+Gelo= estraga o cérebro!




Parece que o filho da puta do gelo é que estraga tudo!!!!!!




...Janga


JANGA... é um termo utilizado na Figueira da Foz para defenir os surfistas, que acabou por se generalizar. É comum dizer " aquele janga foi á água hoje !".

Janga é também uma marca local de roupa e wetsuits de excelente qualidade, criada por surfistas/criativos da Figueira da Foz, e que rapidamente se transformou em algo que personaliza um movimento cada vez maior, ligado ao surf.

TRIBOS URBANAS TEAM CARVER LEIRIA








Em Leiria existe APENAS uma skate shop... a TRIBOS URBANAS...

TEAM LEIRIA CARVER TRIBOS URBANAS: já somos muitos e continuamos a crescer... (jose ribeiro, diogo morais, ivo morais, mauricio quaresma, abdel rakem, joao luis... )



... atitutes positivas



Tenho o cabelo e rosto queimado do sol, cabelo comprido e desalinhado, prancha debaixo do braço e aquele traço mágico no pescoço que revela meses e meses a gelar dentro de um fato, nos dias frios de sol.
Considero-me um gajo bastante positivo e proactivo.
O corpo precisa do esforço para a mente equilibrar o espírito.
Conheço montes de pessoas reactivas que são aquelas que têm sempre desculpas, para tudo e mais alguma coisa, pensam mais nos outros e no que eles pensam do que neles próprios, deixando-se influenciar negativamente, não acreditam que são capazes, nem até onde conseguir ir.
Por outro lado, conheço menos pessoas proactivas, essas, sim, acreditam sempre que há maneira de as coisas correrem bem, acreditam que são capazes, focam-se nelas próprias e sabem que com uma atitude positiva podem conseguir qualquer coisa.
" Toda a minha vida é esta fuga, toda a minha vida é esta onda onde eu dropo, estabeleço a linha, dou um bottom-turn e atiro-me à vida, para o que der e vier. (...) E quando ela começa a fechar, saio, remo de volta para o pico, apanho outra onda e faço a mesma cena outra vez." by MIKI DORA.
" I surf because... (...) Eu surfo porque sou sempre uma pessoa melhor quando saio." by ANDY IRONS.

... companheiros de surf


... e se pudéssemos escolher amigos para nos acompanhar no surf?

Teriam de ter gosto pela aventura, bom comportamento no lineup, domínio da linguagem própria da actividade, polivalência para surfar qualquer tipo de mar, boa disposição dentro do razoável e ter a noção de que um fato que cheira mal ao próprio utilizador, para outros é o equivalente a ter um cadáver na bagageira do carro.

Quem não gosta de ter a companhia perfeita para surfar??? Alguém que nos ature as manias, que goste de surfar o mesmo tipo de mar, que reme alegremente para o pico, alguém que embirre com os mesmos locais, vibre com as nossas modestas proezas e nos apoie quando a coisa corre mal: " Isso é da prancha, com outra prancha nos pés tinhas feito um manobrão naquela secção!"

Um companheiro de surf em condições, é uma raridade preciosa.

... pele


Uma pergunta que me fazem, visivelmente baralhados, é: porquê?
As razões não são simples e são demasiado intimas. Não tenho de dá-las. Talvez seja necessário ser eu, estar no meu lugar e ter o meu nome para entendê-las por completo.
Para nós próprios, a pele é aquilo que nos protege, a fronteira entre a nossa presença e o mundo físico. Um aparelho sensível que capta a percepção daquilo com que interagimos.
Para outros, essa mesma pele é a nossa superfície, a aparência. E, já se sabe, a aparência é tão enganadora, a superfície é tão superficial.
Sim, doí fazer piercings e tatuagens. Não, não são só uma picadinha, não, não são cócegas.
Além disso, na vida e na escola do meu filho, sou o pai tatuado, com piercings e de chinelo que passa entre os pais de fato.

...manhãs


Acordei! São novamente 7 horas da manhã e o despertador ainda não começou a tocar. Vesti-me à pressa, dou o antibiótico ao Zézinho, levo o cão à rua, não tomei o pequeno almoço, tomo-o pelo caminho! Saí!
Leste novamente. Suspiro de excitação! Mais um dias de boas ondas, igual ao de ontem, antes de ontem, de à uma semana, quase um mês!
Passo por casa do Morais, vem comigo como de costume! É presença assídua todos os fins-de-semana, feriados e finais-de-tarde! O Fubu hoje também vem.
Chego à praia. Não saltei do carro, como um daqueles bonecos que têm uma mola na base da cabeça e passam a vida fechados numa caixa à espera de proporcionar o derradeiro susto a uma alma curiosa. Também não vesti o fato húmido a correr, nem corri logo para as ondas. O mar hoje está mais pequeno que o costume, dá para surfar.
O crowd não existe ali ou ainda não acordou apenas os meus amigos!!!

... duas cabras

... a do pobre!!!!




... e a do rico!!!!



... rotina




Do sítio de onde venho, onde exerço o meu combate diário contra a engrenagem, sinto a rotina desta luta diária a envelhecer-me lentamente, a semelhança dos dias nesta guerra diária detrói-me, e pior é permitir que tal aconteça. É difícil encontrar um nível de entusiasmo, vindo do fundo do ser, excitado pela continuidade absoluta de ser pai a tempo inteiro que me preenche na sua forma mais pura e bela.
A vida é difícil... mas BOA!!!

... contradição


À medida que caminho sobre a areia, as minhas mãos salgadas percorrem a fibra de vidro, sentindo os contornos, o corte dos rails, os dedos lêem o Braille do wax, pressionam o foam. Viro a prancha ao contrário, num rosto que acusa em muito o abuso do sol e do sal. Em silêncio percorro a curva dos fins e penso firmemente que os surfistas são pessoas mais evoluídas, até quem sabe melhores, que todo tempo que passamos a contemplar as possibilidades do mar nos deixa mais reflexivos e maduros. Mas ao mesmo tempo acredito o contrário, porque no mar o surf, como qualquer outra actividade, agrega e aceita todo o tipo de gente.

... localismo




Quando me perguntam " Fazes surf? Onde?", tenho sempre dificuldade em responder à segunda parte da questão, principalmente se for feita por alguém fora do meio. É que implica uma explicação. Surfo onde estiver melhor para o tempo que tiver disponível. Sou local em muitas praias.
Os locais verdadeiramente locais também sabem que têm privilégios e não precisam de os anunciar para os poderem gozar. Claro que o localismo existe e é para ser respeitado.
Sair de casa para ir surfar continua a ter a magia da expectativa, da esperança em encontrar boas ondas. O mar é assim, mágico, diferente todos os dias, com a capacidade de nos surpreender e talvez também por isso é que nos prende.


... intensidades singulares



Sim, tenho outras coisas que também me dão prazer.
Certo que são prazeres diferentes, de intensidades singulares, mas que me completam como pessoa. Tudo junto torna a vida mágica.
Não penso que faz de mim um surfista diferente, não fazer do surf "a" coisa mais importante da minha vida. É certamente "uma" das coisas que me preenche a vida.
O surf não teria a mesma importância se não tornasse a vida mais rica nos mais variados aspectos.
Tristes e solitários aqueles a que as suas vidas se resumam a um único prazer, seja ele qual for.

... equilíbrio


Quando estou no mar sinto o equilíbrio regressar ao meu corpo e tenho a certeza que sairei de lá alguém melhor, mais completo, sereno e com confiança suficiente para voltar a agarrar o Mundo.
É o meu lugar no mundo onde me encontro, onde estou comigo próprio.
É onde estou em PAZ.

... paz

Encontro no mar a resposta para as minhas ansiedades, para os dias mais difíceis.
O que me move hoje é o meu filho, pois nele encontro a força todos os dias para andar em frente, lutar contra as adversidades da vida.
Mas confesso que o surf me dá uma paz interior e me liberta.
Quando saio de casa às primeiras horas de luz, o mar tem o dom de, nos fazer voltar, uma e outra vez, sem nunca parar, deslizar pela parede da onda e tentar que esse momento se prolongue... depois, resta-me remar para o outside com um sorriso e uma sensação de satisfação única.
Isto é que me preenche e agradeço todos dias a sorte que tenho em ter um filho lindo e poder surfar com amigos.

...sócios cheios de terra na boca


Musica: Oquestrada - Tasca Beat 'O Sonho Português' (2009)killing_me_song

... madrugada


O caminho é feito ainda com as luzes do carro ligadas. A prancha aconchega-se nos bancos traseiros e o fato, ainda molhado, dorme no porta-bagagens, coitado, em breve será acordado mais uma vez por este corpo cansado. O wax e o raspador ficaram esquecidos em casa, como de costume, como são pequenos passam despercebidos. A descida, para a praia é feita em ponto morto, uma curva apertada e já se vê as linhas, perfeitas viajantes... Alguns minutos depois, raspo a prancha com uma pedra que dorme há muito tempo na areia... caminho descalço, já sinto a humidade do fato.
As ondas estão lá, o crowd é que não, apanho a primeira onda que fecha, a segunda já não, mas não apanho velocidade para passar a secção, mas apartir da terceira onda é que é...
... mais que perfeito!

... sereia



Existe na minha vida também uma pessoa que me faz feliz, apenas pela simples casualidade de ter cruzado o meu caminho. A nossa relação é sincera. É bonita? Sim, para mim é linda, mas no mundo em que vivemos eu acho que ela é sobretudo rara, muito rara, nunca deixo de reparar na simplicidade dela, mesmo nas pequenas coisas.
Eu é que sou uma espécie em vias de extinção, apenas com esta diferença, que ninguém me quer preservar.
Podia ser perfeitamente uma daquelas sereias que nas lendas atraia os marinheiros para a perdição...
A praia fica mais completa com esta sereia solitária de olhos postos no horizonte à espera do seu mais-que-tudo... com o meu mais-que-tudo a seu lado.

... o frio é psicológico


Com o fato vestido e com a prancha debaixo do braço, lá vou descendo a praia, a medo, com o vento nas costas a avisar que não será fácil lidar com o frio, mas as ondas estão perfeitas, o tamanho perfeito. A uns passos do mar a areia fica muito fria, mesmo fria, nem consigo calcular o impacto que a água vai causar, quando me envolver os pés. Mais uns passos e o meu corpo pára, gela, as pernas ficam quietas em choque escandalizadas com o frio, que já me chega aos ossos, e quanto mais ficar parado, pior é, o melhor é andar, logo que se possa. Os pés e as mãos estão completamente congelados, o meu corpo totalmente acordado. A perspectiva de chegar às ondas é cada vez mais deliciosa, mas para lá chegar é preciso enfiar a cabeça debaixo da água, que passa gelada para dentro do fato. Depois o mergulho é inevitável...
Foda-se...

" O frio é psicológico" é provavelmente a frase mais estúpida do mundo!

... insatisfação


São oito da manhã, ou oito da tarde, a hora do dia não me diz absolutamente nada. Estou parado e espero por algo que não vai acontecer. Faz alguns dias que espero e a minha fome continua, não me larga a sensação de que venha o que vier a insatisfação vai continuar. É minha, sou eu. Exijo que me satisfaçam.
São oito da manhã e nada acontece...

... as pequenas coisas


Nos dias difíceis de chatices no trabalho, do trânsito, das dúvidas e anseios de quem percebe que afinal ainda está a crescer, enche-se a cara num sorriso ao lembrar de outros tempos. E acima de tudo perceber que há coisas que nunca mudam. Agora já somos homens feitos, de pêlo no peito e barba rija.
Sei que as coisas vão mudar... é impossível impedir isso. Haverá um dia que vamos perceber que mudámos... faz parte da vida e vamos ter de aceitar isso. No que nos transformamos é que é importante. No entanto, acredito que será em algo bom.
São aquelas pequenas coisas que nos incomodam e que preferimos ignorar. Achamos que fazem parte de nós, simplesmente, dá-nos um certo conforto acreditar que foi a vida que nos tornou assim. Durante algum tempo resistimos, achamos que não, que não somos bem assim. Mudá-las apenas depende de nós.
Quando a vida fica naquele fio ténue, em que se ganha a certeza da fragilidade de quem somos. Tudo quanto nos preocupava, tudo quanto achávamos importante muda drásticamente.
O regresso à essência, o retomar à felicidade da simplicidade nas pequenas coisas que nos dão prazer, logo o seu significado é mais real, mais verdadeiro e acima de tudo mais genuíno.

... a vida surpreendo-nos


Nunca me imaginei aqui, agora, na profissão que tenho hoje!
Mas o engraçado é que há mil histórias como a minha, de pessoas que trilharam todo um caminho para cumprir um desafio, decidido e pensado na idade em que ainda se debatiam com as borbulhas que saltavam do rosto, para depois, um dia, perceberem que, afinal, já são "grandes" e não fazem aquilo que queriam fazer. A vida surpreendo-nos.
A verdade é que para estarmos felizes precisamos de fazer realmente aquilo de que gostamos. E, às vezes, isso implica mudar de rumo. Saltar sem medo no escuro. Temos de, às vezes, olhar para trás, sem preconceitos ou ideias feitas. E fazer diferente, quem sabe melhor! E se não gostamos do que fazemos, ir atrás do sonho, porque, às vezes, o sonho também corre atrás de nós. E a vida surpreendo-nos...

... natureza da vida


Pequenino mas já com o vício do "SAL". Nele revejo-me, nele (re)descubro-me, temos um pacto secreto, uma pacto feito de sal e fibra de vidro, começa tudo com uma brincadeira, o primeiro cheiro do mar, que no princípio nem se sabe o que é, o primeiro contacto com a água, sereno e lúcido, a fibra que escorrega nas mãos com o contacto da água e a sensação harmoniosa de estar dentro da água, respirar o seu ar carregado de sal.
Os anos passam e os cheiros e imagens ficam. A brisa de leste que traz o cheiro a mar e o doce das memórias. Gosto de estar com ele na água, é como que respirasse o mesmo saco de oxigénio, transmitir-lhe a minha forma de estar na vida. Deslizar por entre toneladas de água salgada, sentir o formigueiro da adrenalina e o acre do medo que o moldará e enrijará para toda a vida, o segredo do sal que o conservará.
Nós vivemos num mundo duro, individualista e tendemos a perder a noção do valor das coisas. Tendemos também a tomar tudo como garantido e a não apreciar as pequenas coisas que nos são todos dias oferecidas, por sermos demasiados cegos para ver.
Também quero lhe ensinar lições de humildade e respeito, duas características que o faram sério aos olhos do mundo. Um dos grande males de crescer é que nos tornamos portadores dos nossos próprios sentimentos, incorrendo sempre no medo de os revelar ao mundo.

... San Sebastian

A horários pouco típicos da Europa, Junta-se uma noite ímpar e completamente alucinada que se prolonga literalmente até os primeiros raios de luz despontarem no horizonte, restaurantes em pleno funcionamento durante toda a noite, reforçados por inúmeros bares porta sim, porta também, justamente considerada a capital da Europa com mais bares por metro quadrado, com os seus efeitos nefastos bem visíveis no areal da praia às primeiras horas de cada dia. Foi nesta conjuntura que passei 10 dias na sua famosa festa anual.

... viajar

Às vezes é preciso parar um pouco para apreciar as coisas boas da vida. Acho que hoje as pessoas não vivem, apenas sobrevivem. E porquê? Para ter um bom cargo, um bom carro e outras coisas. E será que isso compensa?
Acho que a maioria das pessoas não conhece nada para lá da nossa " porta".
Viajar permite um conhecimento social e geográfico muito para lá daquilo a que estamos habituados.
Feliz digo que hoje em dia, quando oiço falar de alguns países ou algumas cidades com aqueles nomes estranhos, sei onde é, sei como é, e como se vive por lá...
O contacto com uma realidade diferente só nos faz bem, serve para alargar horizontes, mudar atitudes, aumentar a tolerânçia à diferença, e ficar com a consciência real que o mundo não acaba em Badajoz.
A diferença cultural ajuda-nos a encontrar as nossas verdadeiras raízes, a identificar o que é realmente importante e o que nos caracteriza enquanto indivíduos.
O importante mesmo é partir para nos descobrir...
Boa viagem!

... "soul surfer"

É um facto que o "soul surfer" não morreu, o prazer de estar com os amigos a apanhar ondas despreocupadamente ainda persiste, mas já se vê pouco disso. Há uma atitude muda na água e quando se ouve a voz de alguém, ou é uma voz que agoniza porque foi dropinado ou porque precisa apenas de chamar atenção e o "ói, ói...ói, ói", vira as palavras do dia-a-dia de um surfista que se preze. Ainda oiço a voz de camaradagem e a loucura total quando estamos todos juntos dentro de água. Esta mudez mundana faz parte do nosso ambiente surfistico. Carregamos talvez a nostalgia e sonhos de Invernos passados juntos em busca de ondas.
Esta nova geração de "surfistas de verão" cega pelo materialismo que lhes bateu à porta, quando ainda não tinham maturidade cívica e cultural para saberem utilizá-la da melhor maneira. Usam-no como aparato pretensioso quando, muitas vezes nem capacidades financeiras têm para o fazer, vivem das mesadas chorudas dos papás e fazem surf porque está na moda e tal. Na água a história não é diferente.
Esta nova geração esqueceu-se que o mundo não é o seu umbigo, chegam com pretensões demasiado elevadas para o respeito e humildade que ainda não ganharam, esquecem-se do básico, de surfar apenas pelo seu simples e puro prazer de o poder fazer.




... prancha partida


Para trás, ficavam algumas horas de viagem de avião e... a prancha partida no seu percurso. A mesma que por alguma razão não conseguiu fazer sozinha o mesmo trajecto que o seu legítimo e conformado dono.
Simplesmente sempre pensei que não voltaria mais a recupera-la em tempo útil de viagem. nestas alturas, é por demais escusado questionar o porquê de certas coisas, ou tentar estabelecer algum tipo relação causa efeito. O melhor é mesmo aceitar os factos como dados adquiridos e inalteráveis, encarnando assim o fenómeno de perda com a maior naturalidade possível. Apesar de tudo, e na ingrata tarefa de definição de prioridades, continuei na ideia de reparar a prancha e depois tentar surfar nela, aliás razão pela qual fiz a viagem. E claro está, pôr em prática o recém elaborado plano.
Apenas um factor parecia ter permanecido igual nesta viagem: a nossa paixão pelo mar, testemunhado pelo swell que nos abençoou.
Surfei todos os dias durante os poucos 8 dias que ela teve de vida!
Afinal foi um excelente plano, normal seria não ter sequer surfado. Não houve sequer o que questionar!
O seu olhar sincero permanece ainda hoje na parede da cozinha de minha casa, uma testemunha viva de, uma bela viagem de surf para sempre por mim recordada.

... pôr do sol


A verdade é que África tem magia, seja pela luz, seja pelas ondas ou pela simplicidade das pessoas.
África marca quem a deixa, África apaixona e faz apaixonar...
Todos os dias quando o sol se põe, incendeia o mar de uma tal maneira, é normal observar as pessoas a deslocarem-se para a praia, jovens, menos jovens, casais, famílias e solitários. E é em silêncio que se observa mais um daqueles espectáculos... o pôr do sol. E só depois de o sol se pôr, enquanto ainda pinta o céu e o mar, mostra uma magnífica palete de cores quentes reflectidas nas poucas nuvens ou não no horizonte... deveras lindo, é sempre lindo! O encore só mesmo no dia seguinte, se o tempo permitir... Aplaude-se em silêncio. Agora são as estrelas que preenchem o manto escuro do céu nocturno.
África é fonte de sentimentos e ideias, campo de sonhos e recordações. África é viver.
África faz a alma perder-se e achar-se, faz o espírito soltar-se e o coração viver...
Recordações...

... amigos nos céus e nos infernos


São alegres, ruidosos, de piada e riso fácil e ainda por cima, como bónus, são os meus amigos.
Os olhares entre nós são cúmplices, as mesmas conversas de há anos e anos para cá, sempre com o mesmo entusiasmo, o mesmo brilho nos olhos, o mar estava assim, em S. Pedro de Moel estava assado, no feriado é que foi, ai estava clássico, irrepetível!
Vejo-os a todos, oiço-os com atenção, a conversa no sofá, a conversa na varanda, enquanto contamos aventuras de há 10 anos atrás, e fico assim, feliz, partilhando a alegria de estar bem, de viver bem. Que acima de tudo está sempre tudo bem e se não está pouco faltará para estar e o que interessa é ir à praia amanhã ou depois, apanhar umas ondas, vir de alma e coração lavados, e esperar que o swell suba esta semana.
Apesar do tempo que passou, parece-me que as conversas vão sendo diferentes: o trabalho, a casa que compraram, o filho que pensam ter, o filho que já fala, as férias com a família no Algarve, a ida à neve, às 10 da noite já estão a bocejar, porque afinal de contas já têm um filho para criar.
Mas há coisas que continuam iguais e oiço-os a falar de uma prancha nova, levezinha, round pin, um espectáculo para o mar aqui da zona. O trabalho a que nos baldamos um bocadinho mais cedo para ainda mandar uma surfada de final de tarde aqui na zona, antes era ás aulas, mas estas coisas mudam e as surf trips já têm horizontes bem mais longínquos, na verdade, de Leiria às Maldivas já vão muitos quilómetros e anos de diferença...
Aqui no meu canto, onde estou, parece-me que afinal ainda continuamos todos como éramos, e... que bom que isso é!

... contas à vida


Sou um zero à esquerda em matemática, nunca tive jeito para números. Desde de que era criança não me recordo, uma vez sequer de tirar nota positiva a matemática.
O resultado de tanta brincadeira é que ainda hoje não sei fazer contas de cabeça, uso os dedos para somar e não dá para imaginar o que eu passei quando o euro entrou em circulação. Um verdadeiro pesadelo!
De forma que sempre que pude tentei subtrair os terríveis algarismos da minha rotina. Pura utopia.
Não dá para sermos anárquicos nesta matéria. Mais tarde ou mais cedo somos obrigados a deitar contas à vida. e, quando damos por ela, a vida está muito mais cara. Ora tudo isto somado se agrava quando se é pai "solteiro", tão certo como um mais um serem dois!

...essência


Costumo dizer que não se deve voltar nunca aos locais onde já fomos felizes. Não por não querer conhecer lugares novos, aliás porque há sítios que são uma extensão das nossas próprias casas são lugares únicos, perfeitos, sítios repletos de histórias vividas com a intensidade que os anos sublinham. Para cada um de nós e em medidas diferentes.

Até que, já crescidos e com dezenas de viagens passadas, demos por nós a reencontramos-nos, e aos outros, inverno após inverno, de volta à essência. Mais velhos, mais carecas, mais barrigudos, com filhos ou mulheres atrás, lá damos de cara uns com os outros, quase sempre sem combinar local ou hora, nestas nossas praias que, afinal foi onde tudo começou...


... ruído

Tens de surfar sempre, quando o mar está clássico, quando está grande, quando está pequeno, quando está partido, quando está ameaçador... É assim que te sentes bem, completo, e que aprendes a gostar e a respeitar o mar como deve ser. E mais importante ainda, tens de tentar surfar quando o mar não está ao teu alcance. Adormecer a eternizar as manobras, fixa, repete e evolui, mas sempre com prazer... com o som da rebentação, pois o ruído que ele faz não há nada que se lhe compare...

... tubo


Quando estamos dentro do tubo nada nos pode tirar a sensação. Nem os wipe outs que fazemos, os cortes que as quilhas provocam, as pancadas que damos na prancha ou mesmo no fundo. Vendo bem, são situações que acontecem frequentemente, não é verdade?

Não se consegue nada na vida sem luta e sofrimento.

A vida é dura, mas boa...